terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Povo da Fúria - Cap 3 - seq 4

Naquele dia Toul acordou perto do meio-dia, ele vestiu-se rapidamente e correu para a Taverna Presas de Lobo, o estabelecimento comercial de sua família. Ele sabia que seu pai já adivinhara os restantes dos acontecimentos. Antes do inicio do inverno o jovem iria partir para a capital Immilmur e iniciar sua carreira militar.
                Toul nunca entendera o porque seu pai era contrário a ordem das coisas. Pois não conhecia ninguém em toda Rashmen que partilhava o menor sinal de pensamento de seu pai.
                Como deveria acontecer com todas as famílias em todos os lugares do mundo, sempre chegava o dia em que os questionamentos de um filho colocavam a prova os relacionamentos familiares. Não era diferente com Toul e Jurimik, no entanto, era pior.
                As explosões de fúria descontroladas de ambos em suas discussões os afastaram muito nos últimos dias. O pai de Toul tentará até o último minuto persuadir seu filho de trilhar as linhas de combate de seu povo. E as respostas evasivas para as perguntas do jovem guerreiro nunca foram um argumento sustentável para tirar do coração do jovem um sentimento que nascia com qualquer adolescente rashemi, desde o início dos tempos.
                Ainda assim, a tarde sempre depois dos treinamentos de combate ministrados na Casa do Lobo, Toul corria para a taverna para auxiliar seu pai. Ele sabia que dormira demais, mas sonhava em não iniciar uma discussão com ele, queria que seus últimos momentos em Taporan fossem vividos pelos dois em paz.
                Ao sol quente daquela tarde, Toul chegou a taverna mas ao invés de vê-la aberta a viu fechada com uma meia dúzia de fregueses a sua porta a espera-la por abrir. Repentinamente para Toul fora como se o inverno tivesse chegado instantaneamente, tamanho era o frio que sentia em seu interior. Com medo de seu pai ter realizado uma imensa besteira, se dirigiu aos fundos da taverna e procurou pela chave reserva debaixo de Jeremias ,o imenso cão de guarda da família. Apanhando a chave e acariciando o cão o jovem abriu as portas e adentrando a enorme cabana que servia como ponto de encontro dos mais velhos para aplacar sua sede pelo jhuild, a cerveja de Rashmen, Toul não encontrou seu pai.
                Observou a tudo e reparou que os objetos encontravam-se da mesma maneira que no momento em que ela fora fechada. Esse era um fato raro, a taverna ser fechada em uma noite de comemoração, mas visto que pai e filho eram parte principal da festa, perfeitamente compreendida pelo povo.
                Toul agitou-se estranhamente, algo não estava certo. E optou ao invés de iniciar os trabalhos sem seu pai, ir falar com sua prima, Jekita.
                A bela jovem, de olhos verdes, filha de uma irmã de Jurimik, chegara a cidade logo após a morte de seus pais, por uma incurssão orc em suas terras. Criada junto com Toul desde pequena, pois possuíam praticamente a mesma idade, gozava de algumas regalias que o jovem não possuía.
                Por não ser filha de seu tio, Jekita possuía maior liberdade para os treinamentos e não precisava trabalhar na taverna junto com seu primo.
                Ela era atraente e forte, possuía o espírito de um guerreiro maduro e por isso durante a tarde concluía seus dias ajudando com a descarga de pesca, onde ela selecionava os peixes a serem comercializados dos a serem consumidos pela aldeia. Logo após seu trabalho ela estudava, pois ao contrário de Toul era mais ávida pelo conhecimento e seu tio revelara-se um bom professor.
                Jurimik deixava o trabalho durante uma hora ou duas para cuidar disso pessoalmente, e agora Toul esperava encontrar seu pai, fazendo isso, mais do que nunca. Mas ao chegar na cabana e encontrar Jekita só, não chegou a ser uma surpresa. Algo dizia ao jovem que sua busca seria infrutífera.
                - Cê não devia estar na taverna ou a briga com seu pai foi  tão rápida que você já saiu de lá. – A pergunta de Jekita não chegou a incomodar Toul, visto que ela convivia de perto com o problema de relacionamento entre os dois.
                - Não, nem chegamos a nos falar. Não o encontro em local algum. Assim que acordei fui a taverna mas ela ainda estava fechada e ele não estava lá. Pensei que talvez estivesse aqui ensinando você a ler. – A explicação de Toul tinha um tom de esperança. Ele acreditava que talvez sua prima tivesse visto seu pai naquele dia.
                - Hum, - a jovem franziu a testa em sua observação – estranho ele não se encontrar na taverna, aqui ele ainda não passou. Mas ele não deve ter ido longe, já falou com Mulin?
                A pergunta de Jekita chegou a aterrorizar o jovem bárbaro, ele havia considerado esta opção, mas em seu interior ele não tinha intenção de ir até a Casa do Lobo. Tinha medo de realmente encontrar seu pai, fazendo alguma coisa da qual se envergonharia. Mas agora ele não tinha mais como fugir. Jekita o questionara sobre o óbvio, e ele teria que encarar seu pai, que a esta altura já estaria deixando Mulin louco com seus argumentos infundados. Por fim o jovem tomou uma grande gama de ar e deu um longo suspiro, cedo ou tarde isso teria que acontecer, então estava na hora de acabar com tudo de uma vez. Sem dizer mais nada deu as costas a jovem e se dirigiu até a cabana treinadora dos mais bravos guerreiros de Rashmen.
                No momento em que Toul se afastou, Jekita entendeu que possivelmente um desentendimento mais sério poderia ocorrer. Por via de dúvidas ela acreditou que deveria acompanhar seu primo.
                Mulin observou o jovem vindo de longe e já imaginava o conteúdo do assunto. Leventou-se de pé devagar, pois sua cabeça inda doía, seu amigo havia o acordado muito cedo e resaca ainda estava presente.
                - Saudações, chefe Mulin. – exclamaram os jovens com a mão fechada em punho sobre o peito, o comprimento típico dos guerreiros rashemi. A saudação foi devolvida pelo chefe do clã.
                - Chefe Mulin, por acaso o senhor viu meu pai? Acordei hoje pela manhã e não o encontrei, pensei que talvez o encontrasse aqui. – a expressão do jovem era de alivio, pois não ver seu pai na Casa do Lobo o deixara mais tranqüilo.
                - Sim eu vi. – Mulin considerou bem as implicações de suas respostas, mas após avaliar a situação encontrou uma maneira de dar as respostas que Toul procurava, sem com isso comprometer seu amigo. – Ele me acordou hoje cedo, queria me falar e disse-me que tinha algo importante para fazer por você. Ele teve que sair e pelo que imagino o que fará acredito que não chegará tão cedo. Meu conselho é que você peça a sua prima para ajuda-lo na taverna pois ele não chegará tão cedo. Talvez nem volte hoje. Agora vá pois mais eu não lhe direi, o resto terá que se entender com Jurimik quando ele voltar.
                Acenando com a cabeça, ambos os jovens se afastam e iniciam novo trajeto até a taverna. Jekita apenas reclamou:
                - Bem feito pra mim. Quem mandou segui-lo, se estivesse em casa não iria precisar ter a “honra” de ajuda-lo na taverna.
                O jovem nada disso, estava absorto demais em seus pensamentos. Queria desesperadamente saber o que estava acontecendo. Intrigava-lhe o fato de que Mulin lhe dissera sobre seu pai ter estado na Casa do Lobo logo cedo. O bárbaro sabia da grande amizade entre ele e seu pai, e tinha medo de que o chefe poderia concordar com alguma loucura e estragar seu planos futuros. Chacoalhando a cabeça ele procurou retirar estes pensamentos da cabeça. Procurou mas não conseguiu.

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