segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O ídolo e a torcida

No dia 16 de janeiro em uma segunda-feira a tarde acabei matando serviço na minha agência e na companhia de meu irmão, minha cunhada e meu pai, fomos assistir o treinamento do Internacional que estava fazendo pré-temporada na cidade de Gramado, distante 35km (meia hora de viagem) da minha cidade.


Ali perto dos jogadores do Inter, assistimos um treino descontraído, e ficamos pertinho daqueles que defendem a camisa a qual amamos. Tinha gente gritando, chorando, torcendo, vibrando. Do outro lado do aramado, os jogadores em sua rotina de trabalho, olhavam de relance aos apelos dos torcedores que imploravam por autógrafos.


Concentrados no trabalho, a maioria tentava ignorar os mesmos, mas volta e meia lançava um aceno. Quase ao final do treino, um dos jogadores cedeu a torcida, e veio correndo para o fundo de uma goleira, posar pra fotos e assinar alguns pequenos papeis, e camisetas distribuindo seu autógrafo. O treino não havia acabado, mas ali estava ele ao fundo do campo, já com uma pequena multidão que se aglomerou. Eu estava entre eles. De longe tirei uma foto, daquele que é o maior idolo do Internacional, atualmente: D´Alessandro.


O treino seguiu, e depois houve mais distribuição de autógrafos, desta vez com a participação de mais jogadores. Acompanhando de longe ouvi um colega colorado perguntar: "E a libertadores Dale, ganhamos?" "Vamos torcer que sim." Respondeu o argentino.


Mal sabia eu, que a frase do argentino acenderia um clamor não visto no Rio Grande do Sul desde 1969 quando Figueroa, nos deixou para seguir carreira. No dia seguinte, o clube chinês Shanghai Shenhua, surpreendeu os colorados, pois havia feito uma proposta para nosso ídolo argentino. R$ 1.000.000,00/mês, era a proposta salarial oferecida ao nosso maior craque. 


Uma proposta que todo colorado sabia, que dificilmente o clube iria conseguir cobrir, e que sabiamos dificilmente o jogador se recusaria. Quando o Internacional estreiou no campeonato Gaúcho deste ano, o nome do jogador que ecoou no estádio, não foi o de nenhum em campo. Poupado para jogar o primeiro jogo da Pré-libertadores, D´Alessandro ficou sabendo da manifestação em casa. As vozes dos colorados de todo o Rio Grande do Sul se uniram em um apelo: "Fica D´Alessandro!". Era um coro, um hino, um clamor, um pedido, vindos da voz de todo colorado.


Quando o argentino em meio a negociação dava ares de despedida em suas entrevistas e manifestações, se reencontrou com a torcida no jogo contra o Once Caldas na última quarta-feira, sequer imaginava o que representava para a nação colorado. Ele sabia que era um idólo sim, sabia que era importante para o grupo, se conhecia como jogador, e julgava que conhecia a torcida. Mas quando seu nome foi anúnciado no auto-falantes do estádio, nenhum outro nome se ouviu depois.


O coro, o hino, o clamor, o pedido, vindos da voz de todo colorado, se fez ouvir frente a frente a pessoa que o era direcionado. O argentino manteve a compostura durante toda a partida, e fez o que sabe fazer melhor, jogou bola. Jogou a bola da despedida. Fez um jogo magnifico. Não foi a melhor atuação do colorado, nem a melhor de D´Alessandro. Mas foi uma bela atuação. Ao final aplausos de ambos os lados e o coro, o hino, o clamor, o pedido, que se prolongava, fez-se ouvir até a casa do jogador.

No final de semana, quando o coro, o hino, o clamor, o pedido, parecia se extinguir, veio a noticia. D´Alessandro fica. Houve um aumento salarial que nem perto cobre a proposta chinesa. Houve conversas entre dirigentes, e principalmente com Fernandão, grande ídolo do clube, jogador vencedor dos maiores títulos do mesmo, que em sua despedida, não teve nada nem parecido com o que se fez pelo argentino. Mas ele, em nome e com a direção do clube se doaram para deixar o argentino no Rio Grande do Sul, junto com a nação colorada.

O argentino disse em seu agradecimento twitter, em suas entrevistas, que ele nunca havia sonhado que um dia em sua vida, teria seu nome ovacionado assim, que tantas pessoas lhe dedicariam tamanho carinho, a ele e a sua família. Disse que não se imaginava em outra cidade no mundo, mais feliz do que estaria aqui, e após uma boa negociação, onde longe da hipocresia, houve sim valores, mas principalmente calor humano, D´Alessandro ficou no Internacional.

A maior contratação do time vermelho este veio de dentro dos portões do Beira-Rio. O argentino mostrou algo que o santista Neymar mostrou ao mundo recentemente. O dinheiro não é tudo nas negociações. É importante? Claro que é. Mas não é tudo.

Eu em vida, nunca vi, presenciei ou sequer tenho a menor lembrança de fato parecido ter acontecido no Beira-Rio. Diz meu pai, que nem com Falcão teve isto, e me lembro nem Fernandão teve o mesmo. O argentino não tem os títulos de Fernandão, nem o reconhecimento de sua nação como Falcão o teve, mas D´Alessandro, tem o reconhecimento, a admiração e a paixão dos colorados, impregnados em seu futebol, nos dribles de La Boba, no seu temperamento abrasivo, no seu apelido de "cabeção". 

A primeira conquista do ano do Internacional em 2012, não se travou dentro dos campos. Ela se travou entre os corações de ídolo e torcida. D´Alessandro figura atualmente fácil, fácil entre os 10 jogadores mais importantes da história do clube, e sinceramente, na parte de cima da lista.

coro, o hino, o clamor, o pedido da torcida foi ouvido pelo ídolo.
Ele, não resistindo aos apelos, se aproximou da torcida novamente para dizer que ficava.
Se repetindo, ele novamente atendeu a torcida, como naquele dia em Gramado.

Obrigado D´Alessandro

2 comentários:

  1. Cara, eu posso ser bobo e ingênuo, mas também ainda acredito em jogadores identificados com a camisa do time. São raros, mas existem.

    Como você citou, Neymar é um deles. Rogério Ceni e Luís Fabiano também entram nessa lista na minha opinião.

    Dinheiro não é tudo. O cara seria mais feliz sendo milionário desconhecido na China ou ganhando um pouco menos e sendo ídolo de uma enorme torcida? Tem coisas que não tem preço. E o Dalessandro tomou a decisão certa no meu ponto de vista. Bom para ele e para o Inter.

    Abraço.

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  2. Rogério Ceni é realmente um grande exemplo. Talvez o maior dentre todos, principalmente pelo tempo de atuação no São Paulo.

    Exemplos para o mundo do futebol, exemplos bons e necessários. Quem dera muitos outros fossem assim.

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